quinta-feira, 9 de maio de 2013

"FALA DO HOMEM NASCIDO"

É certo que não levaremos nada dessa vida, mas alguns poemas precisam ser apreciados na sua essência para que, dessa forma, vivamos com um melhor discernimento. Como é o caso do poema "Fala do homem nascido", da obra In teatro do mundo, escrito pelo poeta português António Gedeão:

"Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no ato de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar



com licença com licença
rumo à estrela polar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário